21°C 32°C
Viçosa, AL
Publicidade
Anúncio

Coligações entre partidos durante eleições não possuem caráter ideológico

Coligações entre partidos durante eleições não possuem caráter ideológico

03/09/2016 às 17h00 Atualizada em 03/09/2016 às 20h00
Por: Redação - Vale Agora Web
Compartilhe:
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

237556_ext_arquivoNos últimos anos, o embate ideológico entre direita e esquerda tem atingido níveis de explicitude que há muito tempo não se via. A direita, por exemplo, que há muito não ia para a rua, agora faz mobilização e compra a “briga” de seus temas com quem quer que seja. E não se trata de somente das questões econômicas, mas a temas transversais como aborto, casamento gay, cotas raciais, ou Direitos Humanos, além do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), cujo trâmite parlamentar encerrou-se no último dia 31.

Mas, esses embates não se reproduzem nas coligações eleitorais. Na verdade, poucas são as chapas cujos partidos são, em uníssono, do mesmo campo ideológico. Neste ano em todo o país, e tomando por base os posicionamentos em relação ao impedimento de Dilma, PT e PCdoB – dois dos principais partidos contrários ao afastamento da petista da Presidência da República – se coligaram com legendas como o PMDB, PSDB e DEM, favoráveis ao impeachment, em metade dos municípios.

Mesmo o Brasil tendo eleição a cada dois anos, ainda é difícil para o eleitor médio compreender as nuances da política, mas é bem verdade que pouco se tem feito para que a política representativa tenha caráter mais ideológico, ao menos aos olhos de quem vota.

Essa incoerência ideológica atinge a direita e a esquerda. Em Alagoas, PT e PCdoB estão coligados com o PMDB em Arapiraca que tem como candidato o deputado estadual Ricardo Nezinho do projeto “Escola Livre” e cujo teor foi rechaçado pela militância de ambos os partidos.

Em Maceió, liberais se uniram aos socialistas do PSB. O PSL, que na capital alagoana acrescentou “Livres” em sua sigla para destacar o liberalismo que defendem, indicou o vice na chapa socialista. Exemplos vão desde alianças partidárias a candidatos com posições ideológicas bem definidas ao lado de outros com visões diametralmente opostas.

SISTEMA POLÍTICO

O objetivo dos partidos políticos é a conquista do poder político e numa democracia – pelo menos na maioria dos modelos existentes no planeta – a principal forma para isso são as eleições. A lógica eleitoral acaba por imprimir a sua vitória como objetivo maior e isso, segundo a cientista política Luciana Santana, é um dos motivos para a não formação de campos ideológicos nas coligações.

“Os candidatos têm como objetivo principal vencer a eleição, independente de manter ou não coerência na sua aliança eleitoral fora os subsistemas eleitorais e partidários nos municípios e estados. Pouca atenção é dada a esse aspecto, mas deveria, pois são dinâmicas muito específicas e influenciadas pelas características da cultura política local”, comenta.

Para Santana, Alagoas tende a ter essa característica potencializada por causa das especificidades da política. Para Lucas Nutels, presidente municipal do PSL/Livres, o problema da falta de coerência ideológica nas coligações se deve ao sistema político brasileiro.

“Temos um sistema eleitoral distorcido que é praticamente uma loteria da democracia. No fim das contas, o que parece predominar no jogo político é o vale-tudo do poder, deixando em segundo plano qualquer tipo de ideário ou convicção”.

Já em relação à participação de seu partido numa chapa encabeçada por um partido socialista, Lucas diz que a princípio a ideia era lançar uma “chapa pura”, mas o partido acabou optando por apoiar alguém.

“Por isso compomos chapa com JHC e indicamos seu vice, o médico Henrique Arruda. Pode parecer um paradoxo a aliança entre um partido socialista e um partido liberal, mas no campo prático, o PSB, na figura de alguns representantes, costuma assumir valores que são perfeitamente conciliáveis”, diz Lucas.

Para Claudionor Araújo, secretário geral do PSDB em Alagoas, o problema também está no sistema político brasileiro. Além de muitos partidos, os governos após as eleições precisam montar coalizões e isso acaba ofuscando a identidade ideológica das legendas.

“Acho que o fato de um partido fazer aliança não significa que ele vá perder identidade ideológica. É só a possibilidade de vencer a eleição e depois de governar. Mas como as coisas estão postas hoje, sem a coalizão não se governa. É preciso pensar num modelo que respeite as diferenças ideológicas e que permita a formação dos campos programáticos”, diz Claudionor que afirma ser o PSDB um partido de centro-esquerda.

A reportagem também entrou em contato com o PT que, através da assessoria, disse que não responderia por causa da fala pública de Paulão – presidente estadual da legenda e candidato a prefeito de Maceió – em defesa da saída do PT do Governo do Estado. Já o PCdoB não respondeu às perguntas até o fechamento dessa edição.

Alternativa seria a reforma do sistema político

Se o principal motivo da não construção de campos ideológicos nas coligações eleitorais é o sistema político brasileiro, então reforma-lo pode ser a alternativa. Mas aí é que entra outra questão: resolver a equação entre as diferentes visões de como deve ser a política representativa.

Para Luciana Santana, o atual modelo de sistema eleitoral e partidário deve ser discutido a fim de torna-lo mais apropriado para a realidade brasileira, reduzindo a fragmentação partidária existente hoje. Contudo, ela não crê que uma reforma política gere coligações mais coerentes ideologicamente.

“Não acredito que uma reforma política pode impulsionar mudanças na coerência para compor alianças. A causa tem muito mais relação com a alta fragmentação partidária, o que dificulta mais que coalizões minoritárias sejam exitosas. Tal comportamento abre espaço para que alianças heterogêneas e pouco coesas sejam construídas. Porém, essa não é uma pauta prioritária para deputados e senadores”, afirma Luciana.

Já Lucas Nutels acredita que o fim do voto obrigatório e instituir o voto distrital podem ajudar a resolver o problema, mas ele é cético em relação a uma reforma política promovida apenas por parlamentares.

“Na minha visão, é temerária qualquer reforma legal, e em qualquer área, se não houver maturidade sobre o tema na sociedade civil. Reclamar dos políticos e pedir que eles resolvam os nossos problemas também está longe de ser uma boa alternativa”, diz o presidente do PSL/Livres.

Claudionor Araújo diz ter tendência a considerar o parlamentarismo o melhor sistema de governo, mas ele precisa ser construído através de amplo debate e que, apesar de promover a diminuição de partidos políticos, não exclua as diferentes formas de pensamento existentes no país.

“No sistema parlamentarista tudo o que vivemos no último período teria sido resolvido mais rápido. Esse atual sistema de governo é centralizador e não há outra forma além da coalizão. Uma reforma tem que respeitar o campo ideológico que cada um possui e não dá pra ser tão enxuta, como é nos Estados Unidos onde só tem dois partidos”, afirma o secretário geral do PSDB em Alagoas.

Outro exemplo de incoerência em coligações é que em Penedo, o PSDB está coligado com o PCdoB. Para Claudionor isso não é problema, pois os partidos, segundo ele, sempre tiveram boa relação em Alagoas. Com o PT, os tucanos estão coligados em cidades como Taquarana e Flexeiras.

Carlos Amaral / Tribuna Independente

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Lenium - Criar site de notícias