Mesmo antes de o mês acabar, todos os estados da Região Sul do Brasil já bateram recordes de mortes por Covid-19 em março, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde. Fora da região, Rondônia, no Norte, também bateu recorde.
Sem margem para ampliação de leitos que acompanhe o crescimento desenfreado de contágio, a equação não fecha. A falta de recursos, principalmente humanos, torna difícil de contornar o problema a curto prazo, segundo o secretário de Saúde do PR, Beto Preto.
"Nós estamos no limite de recursos humanos. O Conselho Regional de Medicina editou uma nova normativa aceitando uma equipe médica a cada 15 leitos de UTI, antes era uma equipe médica a cada 10 leitos. Está nos ajudando isso", apontou. Apesar da alta nas mortes por coronavírus, o governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), afirma que já registra menores taxas de contágio e de novos internados por dia em hospitais e analisa a retomada da cogestão do modelo de Distanciamento Controlado a partir de segunda-feira (22). A ocupação nos leitos de UTI nesta quarta-feira atingiu 109%, o que representa 300 pessoas a mais do que a capacidade. No PR, o governador Ratinho Junior (PSD) prorrogou até 1º de abril as medidas menos restritivas adotadas desde 10 março. Na terça (16), quando foi publicado o decreto de prorrogação, o estado teve o maior número de mortes por Covid-19 em um dia, com 310 registros. Pelo decreto, continua em vigor o toque de recolher entre 20h e 5h. O comércio e serviços não essenciais podem funcionar com restrições em dias de semana. As aulas presenciais da rede estadual permanecem suspensas. E, em SC, a escalada de contágio atinge todo o estado que, há três semanas, está no nível considerado mais grave para a transmissão da doença. Nesta quarta, 442 pessoas esperam por um leito de UTI. Uma das regiões que mais preocupa é a Grande Florianópolis, onde 21 municípios se uniram e adotaram um decreto único que restringe a circulação de pessoas. O governador Carlos Moisés da Silva (PSL), disse que "temos que aprender a conviver com o vírus" e estuda reduzir as atuais restrições aos fins de semana, incluem limitação de horários e lotação nos estabelecimentos.É preciso parar, apontam os especialistas. O vírus e a circulação. Para o professor Fabrício Mengon, do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a aplicação das medidas restritivas devem ter como base o conhecimento científico.
"As medidas restritivas que causam impacto na redução na curva de casos e de mortalidade devem durar pelo menos duas semanas, devem prever a restrição inclusive de atividades do comércio varejista e de todas as outras atividades não essenciais. Não podemos pensar em medidas, não é tolerável pensar em medidas que são baseadas em horários específicos de circulação de pessoas. Por que o vírus não respeita horário de circulação", explica Mengon. Para o presidente da Regional do RS da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), o médico Wagner Nedel, a disseminação da variante P.1, considerada mais transmissível e causadora de sintomas mais intensos, e a "confiança" da população, que diminuiu o isolamento social, aceleraram a progressão de casos. "Acho que tem causa bem clara para isso foi a progressão de casos graves de uma maneira muito rápida, acelerada. Tínhamos um momento de estabilidade e a população começou a ter mais confiança", apontou. O epidemiologista e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Airton Stein também relaciona a postura da sociedade com a ocupação dos hospitais, e cobra uma melhora na atuação dos gestores públicos. "[É necessário] Melhorar o sistema de informação entre o gestor municipal e a população de uma forma que entenda a relação direta da falta de comprometimento entre o comportamento populacional e o aumento muito rápido de ocupação dos leitos nas unidades de atendimento hospitalar", disse.Mín. 20° Máx. 31°